28.12.09

♦ Humildade



Tanto que fazer!
Livros que não se lêem, cartas que não se escrevem,
línguas que não se aprendem,
amor que não se dá,
tudo quanto se esquece.

Amigos entre adeuses,
crianças chorando na tempestade,
cidadãos assinando papéis, papéis, papéis...
até o fim do mundo assinando papéis.

E os pássaros detrás de grades de chuva.
e os mortos em redoma de cânfora.

(E uma canção tão bela!)

Tanto que fazer!
E fizemos apenas isto.
E nunca soubemos quem éramos
nem para quê
(C. Meireles)

16.12.09

A saudade tal um óleo
obstinadamente me arrasta.

Vaga, a carga de lembranças
paralisa-me as horas,
imobiliza-me os olhos
e avança, em direção ao nada.

Rasga-me a íntegra pulverizada imagem.

A crispar idéias, dilacero a calma.
A lanhar a alma, meço a falta de tuas mãos.

Depois virão os ventos
e a porta que sangra fechada.

27.10.09

Conversação

O tumulto no coração
continua a fazer perguntas.
E então ele pára e se compromete a responder
no mesmo tom de voz.
Ninguém poderia dizer a diferença.

Sem inocência, essas conversas começam,
e, em seguida, envolvem os sentidos,
em meios significados somente.
E então não há escolha,
e então não há sentido;

até que um nome
e todas as suas conotações sejam os mesmos.


_______________E. Bishop

(Trad. Cláudio Rangel)

21.10.09

às vezes...

Às vezes tenho um Deus dentro de mim,
nesta alma que não crê e que não ora.
Pois que em tudo, num paradoxo sem fim,
O encontro cada vez com mais demora!

Pois se às vezes não O vejo no meu céu,
é cá dentro que a meus anseios replica.
Se um dia me atinge e me vara com arpéu,
noutro dia me sorri, abençoa e justifica.

Eu não creio, é verdade, nessa ordem;
nas ideias que Dele fazem e seduzem.
Mas vou sendo e fazendo se procedem
das razões, atos que a Ele reconduzem...

E assim, devagar, vou seguindo esta quimera
de quem por mim Nele crê, tem fé e espera...

5.10.09

Afoguei-me em teu olhar

Numa manhã fria de abandono
O meu olhar desconcentrado e lento
Moldou-se alheio ao fio do sono
No ocaso da noite e num mar de vento.
Mas uma ave soltou-se cá do fundo
Gritou, picou em voo liberto
E em sintonia de si com o mundo
Partiu de mim destino incerto.
E se estava perdido e merecido,
Um novo olhar de ver só meu,
Dissolveu-se na luz do que é sentido
E se afogou de encontro ao teu...

30.9.09

SOU GENTE

Tenho dias em que gosto de mim!
Marco encontro comigo.
Rio comigo e de mim!
Abraço-me, liberto-me, nas ondas, no vento.
Misturo-me na areia quente
Repouso nos meus sonhos.
Deslizo-me em azuis de vida.
Brinco com as lembranças e voo.
Nas montanhas, nos cheiros, na frescura dos verdes.
Nas águas, nos sorrisos e no sabor do horizonte.
Deixo-me ir ora anjo, ou eu simplesmente...
Procuro-me em cada olhar
Em cada gesto, em cada ave que passa.
Sem defesas tudo é claro e transparente.
E moldo-me ao silêncio que me escuta os sentidos, e adivinho…
Sou louco? Não! Sou gente!

22.9.09

Brincar de Amar

Brincar de amar o vento
sorvendo o sopro que me toca o rosto.
Brincar de amar o mar
na brisa que dele emana.
Brincar de amar o sol, a lua,
o mundo que me cerca,
inspirando-me, aquecendo-me
descobrindo voce.
Levar comigo a lembrança
dos momentos passados juntos,
dos medos curtidos
no silencio do meu quarto.
Carregar comigo a esperança
de sempre encontrar seu sorriso,
suas frases, seus trejeitos
e me sentir flutuar
a cada toque seu.
Buscar sempre consigo
o rumo, o prumo de nossas vidas.
Ouvi-la sempre a falar
"mas que menino bobo"
com aquele ar zombeteiro
de quem acha graça do meu medo.
Querer seu manso chamego
nos tempos vivos de ternura.
deitar na mansidão do seu colo e adormecer
ao compasso tranquilo do seu coração.
Perceber seus olhos brilhando
nos momentos de alegria.
Sentir-me nenem sedento
em cada momento de descoberta.
Brincando,
amar
você.

18.9.09



O que dizer nesta passagem?

Eu hoje estou inabitável.

18.8.09



Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar.

Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?

(F. Pessoa)

15.8.09

Elocubrante

Música de rádio nos ouvidos
canção de liberdade n'alma
nas mãos os calos daqueles duros dias
quando o nada era tudo.
Quando o escrito era lei
e o grito o algoz.
Som de novo
a fazer barganhas impossíveis,
a trazer nas nuvens o sol raiado,
um pouco do absurdo de todos nós,
sorvidos em pequenos goles de cálice seco
evaporado pelo calor de nosso tédio
pelo ardor de nossa ira
ou pelo amor de nossos filhos, sei lá.
Do discurso louco de cada um,
um trecho de verbo forte,
um mundo de horizontes sem luz própria
e a lanterna do universo apagada na mão.


Julio Vianna

11.8.09

...

Perco pedaços pelo caminho
mal contenho aquilo que preciso carregar
Sou pedra, sou ponta de lança
Não choro, não falo, não ando
Nos momentos de solidão viajo em meus devaneios
Solto o corpo no ar.. e caio como pena
Grito alto, mas só os surdos me ouvem
Sou espinho, pimenta.
Sofro de excesso de consciência.

Sabrina
08/06/06

10.8.09

EPITÁFIO

Procures escrever tudo aquilo que sentes,
E procures viver tudo o que tu escreves,
E tudo aquilo que em teus versos inventes,
Em teu coração cuida que o conserves.

Mil rimas eu fiz, mas na vida não tive
Agir consoante a nenhum de meus versos.
Vivi longe deles, de modos diversos,
E poeta só é quem os seus versos vive

E se esta verdade em teu peito não gravas,
Farás belo canto e serás um esteta,
Mas como não fui, não serás um poeta
Se a tua poesia for só de palavras

2.8.09

De agora em diante

De agora em diante eu só vou observar.

Ouvir é melhor do que falar. Traz mais benefícios, faz-nos maior.

Soneto

Por que só eu, meu Deus, entre os mortais,
Carrego gravada em minha retina
Uma constante imagem feminina;
Por que só eu, meu Deus, e ninguém mais?

Por que todos no mundo, meus iguais,
Por crerem em Vós já não são cativos
De qualquer paixão, por Vós redivivos;
Por que não eu, a quem também amais?

Eu, que tenho convosco uma aliança
Forjada em minh'alma quando criança;
Por que a mim, meu Deus, me castigais?

Retireis dos olhos meus tal maldição;
Livrai-me destas algemas ou, então,
Por favor fechai-os, até nunca mais!

Rodrigo Thomaz

16.7.09

♦ Fragatas



Moça desliza faceira
e a poesia esgrima.

A vida passa ligeira
lá na Pereira da Silva
esquina com a Moreira.



Cláudio Rangel

8.7.09



A Lua narcisa
girou - saltou - mergulhou
no espelho do mar.



Cláudio Rangel

24.6.09

Belas Maldições

" Pode ser de alguma ajuda compreender as questões humanas para esclarecer que a maioria dos grandes triunfos e tragédias da história são provocados não pelas pessoas serem fundamentalmente boas ou más, mas por elas serem, fundamentalmente, pessoas."

Neil Gaiman & Terry Pratchett

17.6.09

Trabalho de Parto

Nascer em dia de sol, sentir-se aquecido, viver a
vida oferecida, reclamar nos choros sofridos, as fal-
tas que nos tiram o sono.

Apender a falar, a perceber os atos proibidos e
obedecer. Perder-se no emaranhado dos jogos, palavras
perdidas, soltas, sem sentido.

Extravasar no lamento solitário que se impôe na
liberação. Envergonhar-se das fraquezas postas a mostra,
como dor de ferida aberta.

Render-se a dor sofrida nesses tempos de procura
já cansada pelos insucessos, marcados em cada palmo
do corpo.

Sentir-se esmorecer as propostas de continuar por
não mais saber começar. Desaprender as trocas dos pas-
sos. Não se arriscar a recair.

Buscar o aconchego da solidão incomoda, converter-
-se ao isolamento por crer na facilidade maior de
sofer SÓ.

Entristecer.


Julio Vianna
19/05/1980

Prisioneiro

Deixar fluir pelos poros
o desalinho dos pensamentos
de voltar, abraçar e chorar.

Fazer ficar no corpo
a sensação do ultimo toque como
instantaneo, na parede, amarelado.

Sentir no nascer do dia
a esperança de reencontrar o passo
perdido na inesperada despedida.

Procurar no aconchego do entardecer
a força serena da certeza,
de saber possível a existência

Entregar a vida a si propria
e sorver em cada minuto
os riscos de saber querer
o encontro definitivo,
o quebrar dos grilhões da mente,
a liberdade de amar,
por amar.

Julio Vianna
06/08/1981

4.6.09

♦ Auto-retrato #5



O que mais me surpreende,
quando me olho no espelho,
é que paro para pensar
se aquele que ali está
me vê como eu o vejo.



Cláudio Rangel

♦ Soneto da Redenção



Não esperava vê-la, de repente.
Não assim: vestida de azul profundo;
Tão bela, elegante, ao meu lado.
Eu vagava perdido pelo mundo!

Desde que sentido tudo acabado
Pensava que jamais amor teria.
Só desespero eu, então, vivia.
Te disse com franqueza, sem pecado.

Mas, tu me achastes e me cativastes.
E se pondo, feliz, ao meu encontro,
Daqueles males, todos, me curastes.

Eu, que morri de amor que não se quis,
Sinto-me, agora, novamente pronto.
Da carícia, em teu olhar, renasci.



Cláudio Rangel

27.5.09

Tenha juízo!

No momento em que eu partia,
Virei-me e tu estavas de costas
Exuberante!, se não te importas
Com esta tamanha ousadia.


Mas esta ousadia é decerto
Bem menor que a daquela hora
Quando voltei, estando já fora,
Para poder ver-te mais perto.

Tu, ao notares meu sorriso,
E apesar do teu guarda-costas,
Sorriste também, em resposta,
Dizendo-me "Tenha juízo!".

Muito siso eu tenho de sobra,
Mas deixei, caído no chão,
De mim algo num simples cartão,
E chegaste a ler esta obra.


Rodrigo Thomaz
A partir do mote de Claudio Rangel

22.5.09

Canção da despedida

Eu que jurei por minh' alma
Guardar-te das dores da vida,
Causei-te a dor mais doída.
Para isso não há o perdão!

A chaga aberta em tu' alma,
O tempo não a cicatriza.
Nem mesmo ele ameniza:
É dano sem reparação!

A alma ferida não sangra,
Mas verte a mágoa sentida
Em gotas de dor incontida;
Em gotas de desilusão...

Desilusão que à alma esgarça,
Deixando-nos apenas carcaça,
Sem pouso, sem rumo, sem chão.


Rodrigo Thomaz

18.5.09

Inaugurando emoção.

Viajo em meio o tempo
Imaginando talvez os tormentos,
Que envolve minha maneira de pensar.
Ser cético em verdades,
Não crer em realidades,
Estranhar o plausível vento no ar
Colecionando vícios,
Incrementando saudades
Perdendo (por sorte)
Saudosos inícios.
Assim quero continuar
Perdendo razões,
Achando estragos
Sonhando demais
Partindo-me em pedaços.

17.5.09

Frio e Calculista, ou...


O Enigma da Margarida


ama? (eu te amo)
não ama? (eu te amo)
ama? (eu te amo)
não ama (eu te amo)
amor...(eu tenho Amor)
não amor...(eu tenho Amor)
(...)


Quem faz a corrente?
Quem quer o ausente?
Se bem calculares
(+ o amor presente)
não importa lugares:
o amor ganha sempre.

11.5.09

Soneto do Amor Imortal

Não sei porque foste dizer-me um dia,
De maneira sincera e inclemente,
Que de tudo restara, tão somente,
Amizade, pois amor não mais havia.

Teu olhar falava, mas eu não cria
Que tais palavras soltas, imprudentes,
Pudessem sepultar o amor luzente
Que no coração meu tão quente ardia.

O amor em meu peito eu já sabia
Ser imortal e, portanto, não podia
Perecer por tolice ou vaidade.

A buscar-te lancei-me em batalha,
Do desamor rasguei a vil mortalha,
Pois que te quero e amo de verdade.


Rodrigo Thomaz

08/05/2009

5.4.09

Todas as boas amizades rendem parcerias autorais...



Começou assim...
12/3/2009_00:27:04
André > L B N... Todo tempo do mundo!
"fechado... me dá seu cel"

...E depois...
17/3/2009 _01:31:11
L B N > André
"v0u enviar um bacana... assim... se a autora insistir mto talvez ela aprenda a escreVer Bem um dia..."
André > L B N
"opa"
André >L B N
"vamos lá"
L B N > André
"so um cadim..."
17/3/2009
01:38:12
L B N... envia C:\Documents and Settings\Minhas imagens\Poesis.jpg
L B N > André
"Veja ai... 'O teu cel' "
L B N > André
"o processo é lento... v0u tomar um cafe e já voltou..."
André > L B N...
"ok"
01:48:59 - "A transferência de "Poesis.jpg" está concluída."
01:51:54
André > L B N...
"adorei o caminho...mas mudaria o final"
L B N... > André
"e ql será tUa sugestão?"
André > L B N...
"o lance do a cobrar fica muito dado...acho q vc poderia brincar com o Céu e o Seu"
L B N... > André
"hummm"
André > L B N...
"dou sugestão só qdo gosto"
L B N... > André
"Obrigada."
.
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29.3.09

♦ Quietamento



Vinha de histórias não contadas, de tão tristes. Pontilhou espaços, tempo alargou. Anoitecido, testamentado, nem tarde fez.



Cláudio Rangel

24.3.09

Dedicado à Hong Kong!


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Trocando de pele em pleno vôo.
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Eu preciso conhecer a Hong Kong! / Ir à Ilha... / Saber por que toda oficina mecânica / Mostra HP nas suas marcas... / Saber que engenharia é essa, / E a força que tem um cavalo potência.
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Ouvir Jimmy Hendrix sem modelo, / De paixão. / Entender porque o H.I.V. / Tenta ‘tirar minha atenção.
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Porquê não tenho olhos puxados, / Mas tenho olhos pequenos, / E que tentando enxergar só o que é meu, / Acabo vendo o mundo inteiro...
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Nos nomes; os achados! / Li cada "a" e "o", / E feito par, nos vimos... / Ou que no teu fim, / No teu y 'ipslone' / Me diverti! / Me inverti! / Vi-o no começo, / No meu h 'agá'.
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Sem foto sua, / Era uma vez um dia, / Qwertys me disse, / Que você está do meu lado...
No cinema, sem pipoca, / Sem honra, Flags of our fathers; / Gritaram pra você; / “Cuide da pessoa à sua esquerda!”
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Ao mar, se para, se aquece / Todo HF enferruja / Só corrói, envelhece... / Mas outra aliança resiste; / Elas já foram gravadas, / Estam prontas ao nosso sinal.
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"Por que o mar assim tão longe e / Ter que correr o atlântico?", / Pergunto com modos às rainhas... / Me esconder nas muralhas, / E perder outro ônibus p'ra casa, / Não é um projeto fácil. / E fica pior... / Contra toda conexão testada / Renovada p'ra'gente, / Feita nas estrelas, / Acaba em si do redial.
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Assim, nem música responde / E todo poema comove e compromete, / A justiça; / Que não enxerga os diretos / Nem procura a verdade / No que escolhe dizer.
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Só p’ra procurar um começo...
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Os sonhos vencidos dos mestres, / Já me dizem o bastante, / E não me convencem mais / Os mestres vencidos.
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Das guerras que são o limite, / A dor, / De um amor nunca respondido... / Que até Hitler quisesse, / E por um período... / Talvez a razão, não tivesse perdido.
...Procure onde a raiva termina. / Eu qui-lo amar e estou!
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Que me vejo só no que tenho, / Não porque tenho olhos tardios / Mas porque tenho olhos aquecidos... / Sou a Hong Kong, vejo-me no mundo inteiro.
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À Hong Kong.

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19.3.09


Quando existe um trabalho a ser feito, não importa a sua razão... Procuro apenas a maneira e as ferramentas de transpor o pensamento em objeto estético.

Não é bonito! É um exercício; portanto, apenas um objeto desse valor.

Digo que "Jeg elsker deg" é uma série fotográfica que busca resposta à minha primeira pergunta - Aonde estou?. Para mais, possui uma semiótica da imagem, do sentimento, do valor estético e além.

Tem a influência, sobre tudo, de um filme que assisti recentemente, alem da sincronia da minha experiência humano-artística, que vem sendo referendada compulsoriamente.

27.2.09

Soberania; um status quo que já não mais!

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Se política envolve os interesses, de algum grupo por “benefícios domésticos” é a soberania que vela essa intenção. No Brasil - ou em qualquer lugar do mundo que exista sob semelhante expectativa - os anos da decáda 1960, de 1500, de 1980 e mesmo 2009, ainda provocam discursos desajustados ao que existe frente as nossas retinas tão fadigadas, e insamente negamos; somos um chiste da diferença, um retalho de todas, poucas, nobres e improvavéis soberanias que já não mais.
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A soberania do islâmico, do americano, do mulato, do bêbe, do escritor, do lavrador, da camareira, da criança de rua, do motorista de ônibus, do jogador de futebol, do padeiro, do filósofo, do músico, da prostituta, do obeso, do professor, da mãe, da médica, do artista, da esposa, do índio, do religioso, do skink head, do astro-físico, do embalador de supermercado, da torcida organizada, do eremita, do egoísta, do refém, do síndico, do vidraçeiro, da vegetariana, do militar, do lixeiro, do víuvo, do banqueiro, do careca e “das tantas adjetivações com as quais preconceituosamente identificamos outrem” está de acordo à lógica, e bem nutrida, tradição de onde nasceu; essa, que impõe ao indivíduo uma natureza verídica das coisas que estam ou como são, visto que temos o uso distorcido de tudo o que avaliamos compreer.
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Soberania pátria, permanecendo o exemplo, reforça o pensamento intransigente que as tradições fundaram na porção mais inconsciente de cada um de nós – entendo então, sermos todos parentes-irmãos- compatriotas por razão dessas tradições - ainda que rejeitemo-nas como valores pessoais ou que assumimos silenciosamente.
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As nossas casas são fortalezas sempre prestes ao ataque, e por ser assim, podemos revidar, podemos atacar antecipadamente, ou então, articular planos hostis contra futuras ofensivas; concluindo sem grandes esforços, os meios da lógica humana e sua natureza irracional ao longo da história civilizada.
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Conciliando diametralmente, o previsto, em oposto - ainda sem constranger-nos à sugestões de ideologias libertária contra honradez de uma nação – somos acarinhados pelo entendimento de uma tal pan-hegemonia cultural, uma pureza a que somos confortados por serem novas fronteiras estabelecidas. Ainda que “amar teu próximo..” seja inadmissível na realidade contemporânea, fazendo de nós oponentes anônimos e declarados, AME e experimente-se pelo caminho óbvio “...como a ti mesmo”; os governos não tem militância pelo respeito ao próximo - seja esse “próximo” quem for, sem previlégios e distinções.
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Portanto, aos que desejam ser ouvidos, lembrados, honrados, amados, estudados, discutidos, permita-se a crítica e seja sincera audiência. Ainda que tenhamos uma leve sensação de dejavù político, que a história é burlada por ocorrências reincidentes – primeiro, lastime-se eternamente por você não atender a praxis da evolução como supõe a ciência -, conquistamos o beneficio da dúvida quando percebemos em nós as circunstâncias da falta de individualidade na humanidade, sem os limites que enchergamos nos mapas políticos.
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Fracasse a ressonância de opiniões totalitárias soadas ao prazer do vento, pois o poder, seja qual for sua aparência, torna o oprimido mestre dos vícios de seu opressor, e defende-se de sentimentos que nunca teve. Por tanto, se até aqui não concordou com nada que escrevi, saiba que ‘oprimido e opressor’ são dotados de importantes e diferentes capacidades, mas em luta, as armas são as mesmas – essa é razão de um planeta fisicamente redondo, sem lados de apoio ou sustentação – que a loucura humana pode até resistir, mas infelizmente revive padrões de traumas memoráveis e intímos da liberdade de que fomos seifados.
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Finalmente, veja que se conseguir antecipar-se na resposta de um desconhecido; tipo “Eu sei que nunca me aceitaria ou aceitará! Não somos capazes de nós amar, tamanha a diferença para convivermos nesse planeta... Ou no mesmo andar desse prédio!”, o máximo e improvável que pode acontecer é partilharem de um legítimo Estado de Respeito Soberano; esse sim, precioso e infalível!
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(( Assumir tal postura envolve muito mais que meu empenho crítico-poético. ))
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Saudo com Alianças.

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Saudações aos editores, frequentadores, colaboradores do Ex-Actitudes!
Agradeço imensamente o convite do Sr.Claudio, galante e sempre tão atencioso por meus escritos - teremos sim, uma longa e gloriosa parceria; aos demais, será um grande prazer conhecê-los e trocarmos tantas informações o possível!
Tudo que postarei aqui tambem será de livre acesso, discussão e complementação; por isso fiquem a vontade nas minhas palavras!
Por hora apresento-me com;
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"Aliança de Gatos"
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Tão dentro do meu coração,
Meu amor inteiro à tona!
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( Aliança de Gatos é dedicado ao meu amor primeiro, que tem a forma e a razão de ser assim reconhecido! )
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11.2.09

Palavra-canção

Antes que a minha voz se converta
Em espada sedenta de luta
Cola a tua boca na minha.

Que eu me cale!, que eu emudeça!,
Se na minha voz houver a crueza,
Se minhas palavras não forem canção.

Palavras de sol, de sonho e leveza...
Palavras de flores, de fogo e paixão...

3.2.09

Quebra-gelo.

Hora de vir aqui falar. Hj eu quero só escrever sem pensar no que, porquê ou pra quem. Sou só eu em letrinhas murchas e arrastadas. Se você gosta do que lê, provavelmente vai gostar de mim. Vc está me lendo agora.
Sabe, eu estou sentindo falta de muitas coisas. Algo assim...saudades, mesmo. Sinto falta do Brasil. Mais que isso: sinto falta do Rio de Janeiro. E não me venha com esse papo de que “tem gente que chora de barriga cheia”, e que no Brasil a situação continua difícil, a corrupção continua engasgando o povo, o transporte público não funciona, saúde pública não existe e os impostos só aumentam. Sempre a mesma ladainha. Não me venha com essa. Tô com saudade do Brasil, sim. Saudade do Brasil e de tudo que isso possa vir a acarretar.
Ora, eu sei de tudo isso! Sei muito bem dos males da minha terra. Cresci ai, de pés descalços, jogando pelada com os moleques. Não me esqueço, não. E quem chora de barriga cheia é quem está aí, reclamando (tirando meus brasileirinhos, aqueles que não estão de barriga cheia, claro). A situação está feia em qualquer lugar. Tem corrupção em todo lugar do mundo. O homem também é ser humano por aqui!
E eu sinto falta...eu quase desmancho de saudades. Sinto falta de acordar cedo (nunca consigo dormir muito no Brasil...há tanto a ser vivido!) com o sol batendo no meu rosto, dourando a minha pele, convidando pra sair. Sinto falta de abrir os olhos, abrir a janela do meu quarto no Humaitá e sentir o cheiro de calor, de vida, de ânimo! E depois tem os barulhos! Ahhhh, os barulhos do meu Rio de Janeiro. Os chiados do meu sotaque carioca, a musiquinha das vans que vêm da zona norte do Rio, os sussurros do flerte. Carioca precisa de contato. Carioca precisa sentir o mundo, precisa tocar, precisa se apaixonar de 5 em 5 minutos. Nunca sofre por amor. Tem um novo encanto em cada esquina. Um amor em cada porto.
E o dia começava automaticamente. É impossível olhar na janela e não sentir vontade de se misturar naquilo tudo, se confundir com o Rio. E eu sinto saudades de pegar a primeira roupa que eu vir, sempre um short e uma camiseta. Escovar meus dentes e sentir que o frescor contrasta com o calor da cidade. Depois vinha o banho, sempre quente. Odeio banho frio. Mas o Rio é a única cidade que me fazia pensar em girar a torneira depois do banho quente e deixar um pouco de água fria escorrer pelo corpo, só pra refrescar. E eu odeio água fria. O Rio confunde seus instintos.
E daí eu deixava a água secar no corpo. Volta e meia não usava toalha, não. Colocava a roupa mal escolhida, numa combinação colorida sem nexo, sem lógica. Nada combinava com nada. Eu combinava com o Rio.
E ai eu descia. Dava “bom dia” à Margarida, que volta e meia me respondia com um bônus de “vai com Deus!”. Checava a caixa de correio e sempre me frustrava por receber mais e-mails que cartas. E saia. E o cheiro era sublime. E eu sabia cada lugar.
Vinha um vento e jogava meus cabelos despenteados pra todos os lados. O vento me irritava, mas era uma relação de amor e ódio. Eu adorava sentir meus cabelos voando nos meus ombros. O que eu não gostava era da direção que o vento tentava penteá-los.
E eu sabia que o dia não começaria tão logo eu não chegasse até o Boomerang, minha lanchonete favorita, e comprasse meu açaí de 500ml, “pra viagem e com canudo”. A primeira gota era uma alegria só! Terminava sempre com a boca roxa pelos cantos, a garganta geladinha e a alma refrescada! Ia tomando devagarinho até chegar em casa e poder degustar com mais calma. Quase sempre esse plano dava errado.
No caminho ficavam sempre uns anônimos- sem os quais a cidade não seria a mesma e muita gente também não o seria- que sempre tentam alguma coisa: ou usam uma cantada barata , ou simplesmente fazem um elogio. Vc nunca olha no rosto dessas pessoas, passa direto e faz que não gosta desse tipo de abordagem. Mas a verdade é que são elas que te dão a sua dose diária de auto-estima. O dia pode começar ali: tudo continua em seu lugar. Vc é carioca e eles sabem. Eles vêem no seu jeito de andar. E é por isso que não passa de um comentário que te faz começar bem o dia. Sentir-se então bonita, e da forma mais pura que existe. Afinal, vc escolheu a primeira roupa que viu no armário, sua boca estava roxa de açaí, os cabelos despenteados, e você não estava usando sequer um batom ou brinco. Vc é bonita nas CNTP’s e fora delas. É carioca!
Saudades de voltar pra casa -e ai sim-, escolher uma roupa bem fresquinha, branca ou amarela pra contrastar com a pele bronzeada. Abrir a gaveta de biquínis, escolher aquele mesmo modelo da sua marquinha, que até vir pra cá e perdê-la, sempre tive a impressão de que sempre a tive. Pensei que as cariocas nascessem com ela. Saudades da minha marquinha.
E depois vinha o ritual: óculos escuros, bronzeador e protetor solar filtro 30 , só pra os ombros,que sempre ardiam mais. Posto 9, celular, uma amiga ou ir comigo mesma pra praia, me fazer companhia. Descer para o ponto de ônibus, esperar o 157 que sabe-se lá Deus quando iria passar. Vibrar sempre que passava o 438, pq também é vermelho como o 157 e me enganava toda vez. Não saber quando chegar. Tudo que acontecer nesse intervalo é lucro.
Ahhhh, fazer sinal pra o ônibus parar. Puxar a cordinha quando se quer descer. Passar pela roleta. Ouvir o motorista contar do jogo do flamengo no “maraca”de ontem à noite. Ouvir a reclamação dos passageiros, pq de tão empolgado contando suas histórias ao trocador, ele acabou passando do ponto. E sentar ali na frente, perto da janela...admirando a paisagem e ouvindo aquela singela troca de elogios passageiro-motorista. Ser neutro. Só ouvir.
Sinto falta de um trocador. Os motoristas de ônibus aqui da Alemanha são tão sozinhos. Só rodam eles e uma voz eletrônica, que não conta histórias, não ri de piadas, não reclama, não defende o motorista que se esqueceu de parar no ponto da ira dos passageiros. Só uma voz. A voz de uma mulher frígida, sem emoção, que só abre a boca pra repetir sempre a mesma coisa: “próxima parada tal lugar”. Fim de papo. Chato assim.
E daí eu chegava. E caminhava por Ipanema como se Vinícius tivesse feito uma música para mim, bem ali. Sentia bossa nova nos ouvidos. Estendia a canga, o que sempre me tomou bastante tempo: nunca consigo estendê-la totalmente. Cumprimentava o pessoal de sempre, que sempre deveria estar trabalhando, mas veio “só pra dar um mergulho”. Tá certo! Viver deveria ser sempre prioridade. Deveríamos todos seguir o exemplo. Bater as mãos na mesa, olhar pra quem estiver em volta e dizer num desabafo: “Segura as pontas ai. Vou ali viver e já volto.” E não voltar nem tão cedo. Afinal, vc foi viver.
Gostava de observar as pessoas. Observar a linguagem corporal. Entender o que cada corpo me dizia. Depois corria pra barraca mais próxima e alugava uma cadeira. Me dava a sensação que eu era dona daquilo tudo. Ora, eu estava sentada com tudo aos meus pés. Quer possuir mais que isso?
E também tinham as ondas. Que barulhinho gostoso! Me fazia pensar lá longe, onde elas começam a se formar. Me fazia pensar em Yemanjá, “rainha do mar, odoiá”. Aprendi a não entrar no mar sem pedir licença à sereia bonita: “licença, minha mãe”, e o pé direito. E depois o mar e eu ... isso é outra história. Eu e o mar somos um caso à parte.
E eu gostava era da praia cheia de gente, mesmo. Nada de praia deserta, não. Gosto é das pessoas. Gosto de dividir maravilhas. Gosto de ver as ondas quebrando contra o corpo de alguém e ouvir aquela risada gostosa que vem em seqüência. E sinto falta de apertar meus olhos contra o calor. O sol daqui nem me olha.
E depois eu ia à faculdade. Ponto final do 439- Gávea. Foi lá que eu pude constatar a existência da maior concentração de gênios por metro quadrado. Gênios de todos os tipos. Gênios da música, gênios da diplomacia, gênios revolucionários, genialidades insanas. E o melhor é que eles nem sabem ainda o quanto podem. Nem imaginam o quão aos seus pés o mundo vai estar em breve. Gosto dessa fase dos gênios. Sente-se ainda certa humildade no ar. E é transparente o potencial de cada cabecinha, cada idéia, e o cheiro de planos. Parece que o ano se comprime em um semestre, tamanha a intensidade dos fatos ali dentro. Sentia que estava onde deveria estar. Nem um passo à frente, nem um passo atrás. Exatamente ali.
Está muito certo que muita coisa não se encaixa, não. Mas o Rio de Janeiro não se trata de encaixes perfeitos. É um mosaico colorido e desigual. Eu gosto e sinto falta.
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Desculpa,mas eu tinha que desabafar!
Faltam 9 dias pra eu passar as férias no Brasil. O coração apertou!