28.12.09

♦ Humildade



Tanto que fazer!
Livros que não se lêem, cartas que não se escrevem,
línguas que não se aprendem,
amor que não se dá,
tudo quanto se esquece.

Amigos entre adeuses,
crianças chorando na tempestade,
cidadãos assinando papéis, papéis, papéis...
até o fim do mundo assinando papéis.

E os pássaros detrás de grades de chuva.
e os mortos em redoma de cânfora.

(E uma canção tão bela!)

Tanto que fazer!
E fizemos apenas isto.
E nunca soubemos quem éramos
nem para quê
(C. Meireles)

16.12.09

A saudade tal um óleo
obstinadamente me arrasta.

Vaga, a carga de lembranças
paralisa-me as horas,
imobiliza-me os olhos
e avança, em direção ao nada.

Rasga-me a íntegra pulverizada imagem.

A crispar idéias, dilacero a calma.
A lanhar a alma, meço a falta de tuas mãos.

Depois virão os ventos
e a porta que sangra fechada.