17.6.09

Trabalho de Parto

Nascer em dia de sol, sentir-se aquecido, viver a
vida oferecida, reclamar nos choros sofridos, as fal-
tas que nos tiram o sono.

Apender a falar, a perceber os atos proibidos e
obedecer. Perder-se no emaranhado dos jogos, palavras
perdidas, soltas, sem sentido.

Extravasar no lamento solitário que se impôe na
liberação. Envergonhar-se das fraquezas postas a mostra,
como dor de ferida aberta.

Render-se a dor sofrida nesses tempos de procura
já cansada pelos insucessos, marcados em cada palmo
do corpo.

Sentir-se esmorecer as propostas de continuar por
não mais saber começar. Desaprender as trocas dos pas-
sos. Não se arriscar a recair.

Buscar o aconchego da solidão incomoda, converter-
-se ao isolamento por crer na facilidade maior de
sofer SÓ.

Entristecer.


Julio Vianna
19/05/1980

1 commentaire:

Cláudio Rangel a dit…

Aqui está nosso queridíssimo Julinho reencontrando o sabor e a cor das palavras, e com exactitude, nos dando o prazer de sua companhia.
Sabemos que há mais 'partos' a serem re.partidos conosco.
Se é para ser "prisioneiro' que sejamos, todos, do amor e da poesia.

;)