11.4.10

Nunca um talvez!

Não me dês esperança se não queres
Que eu te corteje como terno amante.
Porque só quero a ti, dentre as mulheres,
E só por ti é meu amor constante.

Não me enganes, por Deus, pois se o fizeres
Terás igual destino logo adiante.
Não me dês esperança se me queres
Apenas por capricho de um instante.

Desilude-me agora, não me tentes
Com olhares de amor inconfidentes,
Antes mata-me o sonho de uma vez.

Lutei e resisti o quanto pude,
Hoje, quero a verdade, inda que rude,
Em lugar da tortura de um talvez...


Rodrigo Thomaz

19.3.10



Même quand je te vois dans l’air qui m’environne,
Quand tu sembles meilleur que mon coeur ne rêva,
Quelque chose de toi sans cesse m’abandonne,
Car rien qu’en vivant tu t’en vas.


3.3.10

É mais importante o que nos tornamos, ou como?

Sabe quando vemos uma foto antiga e tem um estranho no fundo? Me fez perguntar quantos estranhos tem a nossa vida. Quantos momentos de vidas alheias fazemos parte.
Fizemos parte da vida de alguém quando os sonhos dessa pessoa se realizaram? Ou estivemos lá, quando os sonhos delas morreram?
Acontece que não continuamos a tentar nos aproximar, como se fossemos destinados a estar lá. Esse tiro também te pegou de suspresa? Pois alguém me disse que podemos ser uma grande parte da vida de alguém e nem se quer saber.

12.2.10



Que sinal nem penhor não é bastante
As palavras dum vago navegante.


19.1.10



Ah, todo este desperdício inútil de ternuras!...

8.1.10

Pedaços de mim mesmo em cada verso

Foram-me os anos de maior doçura,
Maior prazer, mas de mais curta vida,
Os que vivi com ela, a mais querida
De quantas hei amado, porventura.

Mas se já estava a sorte decidida,
Melhor seria, às portas da loucura,
Que eu tentasse esquecê-la, atroz tortura
Sabê-la sempre para mim perdida.

Fiz-me boêmio então, gastei meus dias
Ostentando fingidas alegrias,
Porém num pranto interior, imerso.

Fiz-me poeta, pra morrer cantando.
Deixei com ela a alma, e vou deixando
Pedaços de mim mesmo em cada verso.

1.1.10

- tenho tanto que dizer, que fazer, que sonhar,
e só há cinzeiros cheios e garrafas vazias.
tenho tanto, tanto medo de não querer,
de continuar abraçando minhas pernas num ato compulsivo de fugir da dor.
queria uma aspirina complexa, uma que invadisse o cérebro, que fizesse tratamentos sintomáticos de tudo que me fere.
queria uma garrafa de whisky com pequenas doses de sanidade,
e um céu nublado, feio, escuro e angustiante,
um que combine com minha alma.


Jéssica Carolina

28.12.09

♦ Humildade



Tanto que fazer!
Livros que não se lêem, cartas que não se escrevem,
línguas que não se aprendem,
amor que não se dá,
tudo quanto se esquece.

Amigos entre adeuses,
crianças chorando na tempestade,
cidadãos assinando papéis, papéis, papéis...
até o fim do mundo assinando papéis.

E os pássaros detrás de grades de chuva.
e os mortos em redoma de cânfora.

(E uma canção tão bela!)

Tanto que fazer!
E fizemos apenas isto.
E nunca soubemos quem éramos
nem para quê
(C. Meireles)

16.12.09

A saudade tal um óleo
obstinadamente me arrasta.

Vaga, a carga de lembranças
paralisa-me as horas,
imobiliza-me os olhos
e avança, em direção ao nada.

Rasga-me a íntegra pulverizada imagem.

A crispar idéias, dilacero a calma.
A lanhar a alma, meço a falta de tuas mãos.

Depois virão os ventos
e a porta que sangra fechada.

27.10.09

Conversação

O tumulto no coração
continua a fazer perguntas.
E então ele pára e se compromete a responder
no mesmo tom de voz.
Ninguém poderia dizer a diferença.

Sem inocência, essas conversas começam,
e, em seguida, envolvem os sentidos,
em meios significados somente.
E então não há escolha,
e então não há sentido;

até que um nome
e todas as suas conotações sejam os mesmos.


_______________E. Bishop

(Trad. Cláudio Rangel)