24.6.09

Belas Maldições

" Pode ser de alguma ajuda compreender as questões humanas para esclarecer que a maioria dos grandes triunfos e tragédias da história são provocados não pelas pessoas serem fundamentalmente boas ou más, mas por elas serem, fundamentalmente, pessoas."

Neil Gaiman & Terry Pratchett

17.6.09

Trabalho de Parto

Nascer em dia de sol, sentir-se aquecido, viver a
vida oferecida, reclamar nos choros sofridos, as fal-
tas que nos tiram o sono.

Apender a falar, a perceber os atos proibidos e
obedecer. Perder-se no emaranhado dos jogos, palavras
perdidas, soltas, sem sentido.

Extravasar no lamento solitário que se impôe na
liberação. Envergonhar-se das fraquezas postas a mostra,
como dor de ferida aberta.

Render-se a dor sofrida nesses tempos de procura
já cansada pelos insucessos, marcados em cada palmo
do corpo.

Sentir-se esmorecer as propostas de continuar por
não mais saber começar. Desaprender as trocas dos pas-
sos. Não se arriscar a recair.

Buscar o aconchego da solidão incomoda, converter-
-se ao isolamento por crer na facilidade maior de
sofer SÓ.

Entristecer.


Julio Vianna
19/05/1980

Prisioneiro

Deixar fluir pelos poros
o desalinho dos pensamentos
de voltar, abraçar e chorar.

Fazer ficar no corpo
a sensação do ultimo toque como
instantaneo, na parede, amarelado.

Sentir no nascer do dia
a esperança de reencontrar o passo
perdido na inesperada despedida.

Procurar no aconchego do entardecer
a força serena da certeza,
de saber possível a existência

Entregar a vida a si propria
e sorver em cada minuto
os riscos de saber querer
o encontro definitivo,
o quebrar dos grilhões da mente,
a liberdade de amar,
por amar.

Julio Vianna
06/08/1981

4.6.09

♦ Auto-retrato #5



O que mais me surpreende,
quando me olho no espelho,
é que paro para pensar
se aquele que ali está
me vê como eu o vejo.



Cláudio Rangel

♦ Soneto da Redenção



Não esperava vê-la, de repente.
Não assim: vestida de azul profundo;
Tão bela, elegante, ao meu lado.
Eu vagava perdido pelo mundo!

Desde que sentido tudo acabado
Pensava que jamais amor teria.
Só desespero eu, então, vivia.
Te disse com franqueza, sem pecado.

Mas, tu me achastes e me cativastes.
E se pondo, feliz, ao meu encontro,
Daqueles males, todos, me curastes.

Eu, que morri de amor que não se quis,
Sinto-me, agora, novamente pronto.
Da carícia, em teu olhar, renasci.



Cláudio Rangel

27.5.09

Tenha juízo!

No momento em que eu partia,
Virei-me e tu estavas de costas
Exuberante!, se não te importas
Com esta tamanha ousadia.


Mas esta ousadia é decerto
Bem menor que a daquela hora
Quando voltei, estando já fora,
Para poder ver-te mais perto.

Tu, ao notares meu sorriso,
E apesar do teu guarda-costas,
Sorriste também, em resposta,
Dizendo-me "Tenha juízo!".

Muito siso eu tenho de sobra,
Mas deixei, caído no chão,
De mim algo num simples cartão,
E chegaste a ler esta obra.


Rodrigo Thomaz
A partir do mote de Claudio Rangel

22.5.09

Canção da despedida

Eu que jurei por minh' alma
Guardar-te das dores da vida,
Causei-te a dor mais doída.
Para isso não há o perdão!

A chaga aberta em tu' alma,
O tempo não a cicatriza.
Nem mesmo ele ameniza:
É dano sem reparação!

A alma ferida não sangra,
Mas verte a mágoa sentida
Em gotas de dor incontida;
Em gotas de desilusão...

Desilusão que à alma esgarça,
Deixando-nos apenas carcaça,
Sem pouso, sem rumo, sem chão.


Rodrigo Thomaz

18.5.09

Inaugurando emoção.

Viajo em meio o tempo
Imaginando talvez os tormentos,
Que envolve minha maneira de pensar.
Ser cético em verdades,
Não crer em realidades,
Estranhar o plausível vento no ar
Colecionando vícios,
Incrementando saudades
Perdendo (por sorte)
Saudosos inícios.
Assim quero continuar
Perdendo razões,
Achando estragos
Sonhando demais
Partindo-me em pedaços.

17.5.09

Frio e Calculista, ou...


O Enigma da Margarida


ama? (eu te amo)
não ama? (eu te amo)
ama? (eu te amo)
não ama (eu te amo)
amor...(eu tenho Amor)
não amor...(eu tenho Amor)
(...)


Quem faz a corrente?
Quem quer o ausente?
Se bem calculares
(+ o amor presente)
não importa lugares:
o amor ganha sempre.

11.5.09

Soneto do Amor Imortal

Não sei porque foste dizer-me um dia,
De maneira sincera e inclemente,
Que de tudo restara, tão somente,
Amizade, pois amor não mais havia.

Teu olhar falava, mas eu não cria
Que tais palavras soltas, imprudentes,
Pudessem sepultar o amor luzente
Que no coração meu tão quente ardia.

O amor em meu peito eu já sabia
Ser imortal e, portanto, não podia
Perecer por tolice ou vaidade.

A buscar-te lancei-me em batalha,
Do desamor rasguei a vil mortalha,
Pois que te quero e amo de verdade.


Rodrigo Thomaz

08/05/2009